Curso Online de RELAÇÕES SANGUÍNEAS: FUNDAMENTOS, CLASSIFICAÇÕES E IMPORTÂNCIA NA SAÚDE HUMANA

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RESUMO

AS RELAÇÕES SANGUÍNEAS CONSTITUEM A BASE BIOLÓGICA E SOCIAL QUE DETERMINA A LIGAÇÃO GENÉTICA ENTRE INDIVÍDUOS, SENDO FUNDAMENTAIS PARA A COMPREENSÃO DA HEREDITARIEDADE, COMPATIBILIDADE SANGUÍNEA E ASPECTOS LEGAIS DE FILIAÇÃO. O ESTUDO DESSAS RELAÇÕES ENVOLVE A ANÁLISE DOS SISTEMAS DE GRUPOS SANGUÍNEOS, COMO O ABO E O FATOR RH, ALÉM DE CONSIDERAR IMPLICAÇÕES MÉDICAS, COMO TRANSFUSÕES SEGURAS E PREVENÇÃO DE DOENÇAS HEMOLÍTICAS. SOB A PERSPECTIVA SOCIAL E JURÍDICA, O RECONHECIMENTO DA FILIAÇÃO BIOLÓGICA E A UTILIZAÇÃO DE TESTES DE DNA REPRESENTAM AVANÇOS SIGNIFICATIVOS NO ESTABELECIMENTO DE VÍNCULOS FAMILIARES, IMPACTANDO DIRETAMENTE QUESTÕES DE IDENTIDADE, DIREITOS SUCESSÓRIOS E LAÇOS AFETIVOS. ASSIM, COMPREENDER AS RELAÇÕES SANGUÍNEAS NÃO APENAS FAVORECE O CAMPO BIOMÉDICO, MAS TAMBÉM CONTRIBUI PARA PRÁTICAS ÉTICAS E DECISÕES ASSERTIVAS EM CONTEXTOS JURÍDICOS E SOCIAIS.

PALAVRAS-CHAVE: RELAÇÕES SANGUÍNEAS; GRUPOS SANGUÍNEOS; GENÉTICA; HEREDITARIEDADE; COMPATIBILIDADE.

INTRODUÇÃO

AS RELAÇÕES SANGUÍNEAS CONSTITUEM UM DOS PILARES DA IMUNOGENÉTICA E DA HEMATOLOGIA, ABRANGENDO O ESTUDO DOS SISTEMAS DE GRUPOS SANGUÍNEOS E SUAS IMPLICAÇÕES MÉDICAS, TRANSFUSIONAIS E REPRODUTIVAS. O SANGUE HUMANO NÃO É HOMOGÊNEO; ELE É CLASSIFICADO COM BASE NA PRESENÇA OU AUSÊNCIA DE ANTÍGENOS ESPECÍFICOS NA MEMBRANA DAS HEMÁCIAS, OS QUAIS SÃO GLICOPROTEÍNAS E GLICOLIPÍDIOS CODIFICADOS GENETICAMENTE E TRANSMITIDOS DE FORMA MENDELIANA (DANIELS, 2013). ESSES ANTÍGENOS, RECONHECIDOS PELO SISTEMA IMUNOLÓGICO, DETERMINAM A COMPATIBILIDADE ENTRE DOADORES E RECEPTORES, SENDO, PORTANTO, CRUCIAIS NA PREVENÇÃO DE REAÇÕES HEMOLÍTICAS AGUDAS OU TARDIAS (WESTHOFF, 2019).

De acordo com Westhoff (2019, p. 1816), “a tipagem molecular revolucionou a medicina transfusional, permitindo a identificação precisa de variantes sanguíneas raras que não podem ser detectadas pela sorologia convencional”.

O SISTEMA ABO, IDENTIFICADO POR KARL LANDSTEINER EM 1900, É O MAIS RELEVANTE NO CONTEXTO CLÍNICO. ELE BASEIA-SE NA EXPRESSÃO DOS ANTÍGENOS A E B E NA PRESENÇA DE ANTICORPOS NATURAIS NO PLASMA ANTI-A E/OU ANTI-B QUE, QUANDO ENTRAM EM CONTATO COM HEMÁCIAS INCOMPATÍVEIS, DESENCADEIAM REAÇÕES DE AGLUTINAÇÃO POTENCIALMENTE FATAIS (LANDSTEINER, 1900). PARALELAMENTE, O SISTEMA RH, DESCOBERTO POSTERIORMENTE POR LANDSTEINER E WIENER EM 1940, É RESPONSÁVEL POR UM DOS CENÁRIOS MAIS CRÍTICOS DA INCOMPATIBILIDADE SANGUÍNEA: A DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL (DEAN, 2005). ESSA CONDIÇÃO OCORRE QUANDO UMA GESTANTE RH NEGATIVO DESENVOLVE ANTICORPOS CONTRA HEMÁCIAS RH POSITIVO DO FETO, LEVANDO À DESTRUIÇÃO ERITROCITÁRIA E, EM CASOS GRAVES, AO ÓBITO FETAL.

DO PONTO DE VISTA IMUNOLÓGICO, ESSAS RELAÇÕES ENVOLVEM TANTO A IMUNIDADE HUMORAL NATURAL QUANTO A ADQUIRIDA. NO SISTEMA ABO, OS ANTICORPOS IGM SÃO NATURALMENTE PRESENTES, ENQUANTO NO SISTEMA RH A RESPOSTA É ADAPTATIVA, MEDIADA PRINCIPALMENTE POR IMUNOGLOBULINAS IGG (DANIELS, 2013). ESSE CONHECIMENTO TEM IMPLICAÇÕES DIRETAS NA MEDICINA TRANSFUSIONAL, ONDE O PRINCÍPIO BÁSICO É A COMPATIBILIDADE ENTRE ANTÍGENOS DO DOADOR E ANTICORPOS DO RECEPTOR, A FIM DE EVITAR HEMÓLISE INTRAVASCULAR E FALÊNCIA MULTIORGÂNICA (YAMAMOTO ET AL., 2012).
Yamamoto et al. (2012) destacam que o entendimento genético do sistema ABO facilita o desenvolvimento de testes moleculares mais precisos, ampliando a capacidade de tipagem e reduzindo erros em transfusões.

ALÉM DO CAMPO CLÍNICO, AS RELAÇÕES SANGUÍNEAS TÊM RELEVÂNCIA NA GENÉTICA POPULACIONAL E NA ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA, UMA VEZ QUE A DISTRIBUIÇÃO DOS GRUPOS SANGUÍNEOS VARIA DE ACORDO COM FATORES ÉTNICOS, GEOGRÁFICOS E EVOLUTIVOS (MOURANT ET AL., 1976). POR EXEMPLO, A ALTA PREVALÊNCIA DO GRUPO O EM POPULAÇÕES INDÍGENAS AMERICANAS E A MAIOR INCIDÊNCIA DO GRUPO B EM REGIÕES ASIÁTICAS REFLETEM PROCESSOS HISTÓRICOS DE MIGRAÇÃO E SELEÇÃO NATURAL (BLUMENFELD, 2019).
Segundo Blumenfeld (2019, p. 355), “a distribuição dos grupos sanguíneos na população mundial reflete não apenas fatores genéticos, mas também influências históricas e processos migratórios que moldaram a diversidade atual”.

NO CONTEXTO ATUAL, O AVANÇO DAS TÉCNICAS DE BIOLOGIA MOLECULAR COMO PCR E SEQUENCIAMENTO GENÉTICO POSSIBILITOU IDENTIFICAR ALELOS RAROS E VARIANTES FENOTÍPICAS QUE NÃO ERAM DETECTÁVEIS APENAS POR SOROLOGIA, AUMENTANDO A SEGURANÇA TRANSFUSIONAL E ABRINDO NOVAS FRENTES DE PESQUISA (WESTHOFF, 2019). ASSIM, COMPREENDER PROFUNDAMENTE AS RELAÇÕES SANGUÍNEAS NÃO É APENAS UMA NECESSIDADE ACADÊMICA, MAS TAMBÉM UMA FERRAMENTA INDISPENSÁVEL PARA A PRÁTICA CLÍNICA SEGURA E EFICAZ.

JUSTIFICATIVA

O ESTUDO APROFUNDADO DAS RELAÇÕES SANGUÍNEAS É INDISPENSÁVEL PARA GARANTIR A SEGURANÇA TRANSFUSIONAL, PREVENIR COMPLICAÇÕES GESTACIONAIS DECORRENTES DE INCOMPATIBILIDADES MATERNO-FETAIS E AMPLIAR O CONHECIMENTO SOBRE A DIVERSIDADE GENÉTICA HUMANA. ESTIMA-SE QUE CERCA DE 118,5 MILHÕES DE DOAÇÕES DE SANGUE SEJAM REALIZADAS ANUALMENTE NO MUNDO, SEGUNDO DADOS DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS, 2022), E CADA UMA DESSAS TRANSFUSÕES DEPENDE DIRETAMENTE DE UMA CORRETA IDENTIFICAÇÃO E COMPATIBILIDADE SANGUÍNEA. A AUSÊNCIA DESSE CUIDADO PODE RESULTAR EM REAÇÕES HEMOLÍTICAS GRAVES, FALÊNCIA ORGÂNICA E ATÉ ÓBITO, TORNANDO A TIPAGEM SANGUÍNEA E O CONHECIMENTO DE SUA IMUNOGENÉTICA FATORES DE ALTA PRIORIDADE NA PRÁTICA CLÍNICA (WESTHOFF, 2019).

ALÉM DISSO, A COMPREENSÃO DAS RELAÇÕES SANGUÍNEAS DESEMPENHA PAPEL FUNDAMENTAL NA MEDICINA PREVENTIVA, ESPECIALMENTE NA PROFILAXIA DA DOENÇA HEMOLÍTICA PERINATAL, QUE AINDA APRESENTA INCIDÊNCIA SIGNIFICATIVA EM PAÍSES COM FALHAS NA COBERTURA PRÉ-NATAL (DEAN, 2005). NO CAMPO CIENTÍFICO, A ANÁLISE DAS FREQUÊNCIAS DE GRUPOS SANGUÍNEOS TAMBÉM É ESSENCIAL PARA ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA BIOLÓGICA E GENÉTICA POPULACIONAL, AUXILIANDO NA RECONSTRUÇÃO DE PADRÕES MIGRATÓRIOS E NA INVESTIGAÇÃO DE PROCESSOS EVOLUTIVOS (MOURANT ET AL., 1976).

POR SUA RELEVÂNCIA CLÍNICA, EPIDEMIOLÓGICA E CIENTÍFICA, ESTE TEMA JUSTIFICA-SE COMO OBJETO DE ESTUDO TANTO PARA A FORMAÇÃO ACADÊMICA NA ÁREA DA SAÚDE QUANTO PARA A ATUALIZAÇÃO DE PROTOCOLOS EM HEMOTERAPIA, OBSTETRÍCIA E MEDICINA TRANSFUSIONAL. A INTEGRAÇÃO ENTRE CONHECIMENTOS CLÁSSICOS E AS INOVAÇÕES DA BIOLOGIA MOLECULAR PROPORCIONA UM PANORAMA ABRANGENTE E ATUALIZADO, CAPAZ DE APOIAR DECISÕES MÉDICAS SEGURAS E BASEADAS EM EVIDÊNCIAS