Curso Online de Hermenêutica - Teologia

hermenêutica (teologia)

prof. carlos carvalho cavalheiro

o que é hermenêutica e quais são suas principais ferramentas

há uma multiplicidade de conceitos construídos para definir o que é hermenêutica. todos eles, entretanto, salientam que o termo se relaciona à interpretação e, no caso da teologia, da interpretação bíblica.

roy zuck costumava definir hermenêutica como “a arte e a ciência de interpretação. é ciência porque postula princípios seguros e imutáveis; é arte porque estabelece regras práticas e envolve uma tarefa.” acredita-se que a palavra hermenêutica tenha sua origem ligada ao nome do deus hermes, mensageiro dos deuses e, por isso, transmissor e interpretador das comunicações divinas aos homens em geral.

a etimologia grega do termo “hermenêutica” significa “interpretar, explicar”. a hermenêutica é a arte (a técnica, o método) de explicar o sentido verdadeiro de um texto. ela visava primitivamente aos textos sagrados: a exegese da bíblia. o sentido desses textos é, com efeito, raramente literal. arrisca-se a permanecer incompreendido ou mal compreendido, se o leitor não for guiado até sua verdadeira significação (hottois, 2008, pp. 443 – 444).

segundo henrichsen (1997), não se pode concluir que cada pessoa tenha sua própria interpretação da bíblia, sem critérios para tais interpretações, sob o risco de tornar o cristianismo sem sentido e a bíblia isenta de mensagem para os homens. portanto, é necessário que se utilize de regras e leis de interpretação da bíblia para que possamos realmente compreender e interpretar o texto corretamente.

para esse autor, é necessária também, a pressuposição de certas coisas para uma abordagem saudável do estudo da bíblia. são elas: 1) a bíblia tem autoridade; 2) a bíblia contém as suas próprias leis de interpretação que produzem o sentido correto de determinada passagem; 3) o objetivo primário da interpretação é descobrir o sentido que a passagem tinha para o autor e 4) a língua pode comunicar verdades espirituais.

ampliando ainda mais o estudo da interpretação, henrichsen (1997) afirma que há quatro partes básicas no estudo correto da bíblia: 1) observação (que vejo?); 2) interpretação (que significa? ou por que o texto diz isso?); 3) correlação (como isto se relaciona com o restante daquilo que a bíblia diz?) e 4) aplicação (que significa para mim?).

quanto às regras de interpretação, henrichsen as divide em quatro categorias: 1) princípios gerais de interpretação (tratam da matéria global da interpretação); 2) princípios gramaticais de interpretação (tratam do texto propriamente dito); princípios históricos de interpretação (tratam do substrato ou contexto em que os livros foram escritos); princípios teológicos de interpretação (tratam da formação da doutrina cristã).

a teoria hermenêutica pode-se dividir em duas subcategorias: a hermenêutica geral (que é o estudo das regras que regem as interpretações do texto bíblico inteiro, incluindo tópicos de análise histórico-cultual, léxico-sintática, contextual e teológica) e a hermenêutica especial (ou estudo das regras que se aplicam a gêneros literários específicos como as parábolas, alegorias, tipos, profecias, provérbios etc). é essencial que se utilize de diferentes regras para a interpretação dos gêneros literários presentes na bíblia, ou seja, a parábola, a narrativa, a poesia, devem ser interpretadas de acordo com regras próprias (ibecc, [2009]; henrichsen, 1997).

ângulos de visões sobre a bíblia paradigma religioso-contemporâneo

o teólogo francês claude geffré o pluralismo religioso, característica marcante da religiosidade contemporânea, para entendê-lo como um novo paradigma teológico em que a vontade de deus se manifesta na diversidade de culturas e religiões como forma de manifestar de forma mais evidente e enfática as riquezas da plenitude da verdade (panasiewicz, 2007). portanto, geffré entende o pluralismo religioso como um novo paradigma para a teologia hermenêutica e, por isso, propõe a abertura do diálogo e tradições religiosas. a interpretação da bíblia deveria ser feita, segundo geffré, levando-se em consideração esse contexto.

ainda, segundo o teólogo roberlei panasiewicz, é importante lembra que por geffré estar envolvido com a teologia hermenêutica, ele pôde refletir sobre a teologia do pluralismo religioso com abertura desde o horizonte cristocêntrico, contrapondo a teologia hermenêutica à teologia dogmática. esta última é metafísica e se origina da autoridade do magistério da igreja católica, devendo, por isso ser acatada. a teologia hermenêutica, por seu turno, é histórica e está aberta ao risco da interpretação.